sexta-feira, 18 de novembro de 2011

NEGROS DE SUCESSO : "FAMOSOS"

"Tenho orgulho de ser negra. Não sou marrom, nem furta cor, nem camaleão. Sou negra"
Neusa Borges, atriz

"A nação brasileira tem uma dívida enorme com os descendentes dos africanos que lançaram as bases deste País. É preciso resgatar essa dívida"
Nei Lopes, compositor e historiador

A pretensão desta galeria não é listar todas as pessoas que
lutaram pelos direitos e respeito à população negra. Antes de tudo, o objetivo é homenagear certas pessoas que, de alguma forma, foram
ou são reverenciadas pela atuação política ou por sua importância nas Artes Brasileiras. Só assim será possível eneender uma lista com nomes tão diferentes, mas tão queridos por todos.

Escrava Anastácia
Um personagem real ou um mito? Até hoje, ninguém sabe afirmar, mas a crença em torno da escrava de olhos azuis é cultuada por milhões de pessoas. Diz a lenda que ela foi uma escrava torturada por ter lutado pela sua liberdade. Como era muito bonita, e não permitia que lhe tocassem, acabou por provocar o ódio dos homens. O pior dos castigos sofridos foi uma máscara de ferro, que só era retirada na hora de se alimentar. Seus restos mortais foram sepultados na Igreja do Rosário, que foi destruída por um incêndio, queimando os poucos documentos que poderiam comprovar ou não a sua existência.

Chico Rei
Capturado por portugueses no Congo, onde era chamado de Galanga, Chico Rei foi vendido como escravo no Rio. Após servir seu senhor por 5 anos, comprou sua carta de alforria e uma mina de ouro, supostamente esgotada. No entanto, ele encontrou ouro na mina, libertando
400 escravos que eram pertencentes à sua corte africana. O ato
tornou-o um homem rico e respeitado. A mina foi redescoberta nos
fundos de uma casa na periferia de Ouro Preto, onde está aberta para visitações atualmente.

Xica da Silva
A escrava Xica da Silva, perdição de um dos homens mais ricos do Brasil no século XVII - o contratador de diamantes, João Fernades - foi uma figura lendária no Arraial do Tijuco, atual Diamantina. Conta-se que o contratador a comprou pelo triplo do valor de um escravo adulto. Xica, que foi alforriada e alfabetizada, andava sempre com muitas jóias, além
de ser carregada em uma liteira por 4 escravos e acompanhada por 12 mucamas.

Ganga Zumba
Primeiro grande chefe da Republica Livre de Palmares, na Serra da
Barriga, área localizada entre os estados de Pernambuco e Alagoas.
Ganga Zumba foi o líder de Palmares por quase um século. Por diversas vezes foi atacado, sempre resistindo bravamente. Ao assinar, em 1678, uma trégua com o governador Aires de Souza e Castro, foi duramente criticado por todos do quilombo - que ficou dividido, a partir de
então, entre os seguidores de Ganga Zumba e os de Zumbi, que
seria aclamado o novo grande chefe.

Luís Gama (1831/1882)
Um dos principais líderes abolicionistas, filho de um rico português e de uma escrava livre, Luís Gama atuou como jornalista, poeta e advogado. Apesar de ter nascido livre, foi vendido como escravo em São Paulo, onde aprendeu a ler com a ajuda de um estudante. Consciente da ilegalidade de sua escravidão - era
filho de uma mulher livre - passou a fazer militância pela abolição da escravatura.

André Rebouças (1838/1898)
Filho de escravos, André Rebouças atuou em várias áreas no século XIX: foi engenheiro, professor de botânica e geometria na Escola Politécnica e escritor. A causa abolicionista, no entanto, era seu principal objetivo de vida; Rebouças foi um dos co-fundadores da Sociedade Brasileira Anti-Escravidão; junto com José do Patrocínio, escreveu o Manifesto da Confederação Abolicionista de 1883; e com Joaquim Nabuco, fundou o o Centro Abolicionista da Escola Politécnica.

José do Patrocínio (1854/1905)
Jornalista, orador, poeta e romancista, nascido em Campos, no Norte Fluminense. Filho de um padre e de uma quitandeira, Patrocínio foi uma das figuras mais importantes e atuantes do movimento abolicionista. A partir de 1879, Patrocínio começou a escrever artigos para jornais como a Gazeta de Notícias e a Gazeta da Tarde e a Cidade do Rio, em que defendia a campanha pela Abolição.

Cruz e Souza (1861/1898)
O poeta do Destêrro, atual Florianópolis, filho de
dois negros escravos alforriados, é considerado um dos principais representantes do Simbolismo brasileiro, período literário em voga nos últimos anos do século XIX e início do século XX. Da sua obra, destacam-se os livros Missal e Broquéis, publicados em 1893. Apesar de ter recebico uma educação refinada, Cruz e Souza sofreu muito com o preconceito racial - tanto que depois de dirigir um jornal abolicionista, foi impedido de deixar sua terra natal por motivos
de preconceito racial.

Lima Barreto (1881/1922)
Além de ser considerado um dos mais respeitados romancistas do País, Lima Barreto era um cronista dos costumes da sociedade de sua época. Apesar de ter exercido o jornalismo em revistas como Brás Cubas, Careta, Fon-Fon, foi com seus romances que se tornou conhecido no meio literário, sendo um dos percursores do pré-modernismo brasileiro. Suas principais obras são Triste Fim de Policarpo Quaresma (1916) e Clara dos Anjos (1948). Seu estilo reflete, em parte, a experiência do autor, principalmente a dos negros e mestiços, que
sofriam o preconceito racial da época.

Mestre Pastinha (1889/1982)
Vicente Ferreira Pastinha abriu o primeiro Centro de Capoeira Angola, , em 1941, no Largo do Pelourinho, Salvador. Filho de um espanhol e de uma negra, Pastinha foi um dos esponsáveis em popularizar a luta no Basil.

João Cândido (1890/1969)
Filho de ex-escravos, João Cândido entrou para a história como o marinheiro que liderou a primeira revolta da Reública - A Revolta da Chibata, em 1910. A revolta comandada pelo Almirante Negro aos 30 anos era contra o uso de castigos físicos ainda utilizados pela Marinha brasileira na época.

Pixinguinha (1897/1973)
Compositor, flautista, maestro e arranjador, Pixinguinha foi um dos mais geniais músicos do País. A ele se deve a mistura de diferentes ritmos que resultou na música brasileira do século XX - choros e marchas de carnaval, principalmente. Carinhoso e Rosa são alguns de seus clássicos que constituem o que de melhor tem o cancioneiro nacional.

Madame Satã (1900/1976)
Negro, homossexual... e temido por todos. Assim poderia ser definido João Francisco dos Santos, o último malandro da Lapa, área boêmia do Rio. Rei da navalha e da capoeira e um dos marginais famosos do País eram outras alcunhas deste personagem tão peculiar de nossa história, que representa, mesmo por linhas e ações tortas, a luta pelo respeito à pessoa humana, não importando sua cor ou opção sexual. Passou boa parte de seus 76 anos preso - viveu por 27 deles no presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro. O apelido surgiu no carnaval de 1928 devido a uma fantasia de diabo.

Clementina de Jesus (1901/1987)
Todos a chamavam de mãe. Ou Rainha Ginga. Ou Quelé. Qualquer que fosse o nome que era chamada, Clementina de Jesus, a ex-empregada doméstica que começou a carreira artística aos 63 anos, causava admiração em todos pela força de seu canto. Vários artistas fizeram questão de registrar a voz da Rainha em seus álbuns, como prova da grandeza da cantora que impressionava em suas aparições no palco, onde tinha um contato direto com seu público.


Carlos Cachaça (1902/1999)
Como se não bastasse ser um dos melhores sambistas que o País já teve, Carlos Cachaça foi, ainda, um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira. O chamado "menestral do samba" tinha como principal parceiro Cartola.

Cartola (1908/1980)

Um dos melhores sambistas do Brasil, autor do clássico As Rosas não falam. Também um dos fundadores da agremiação verde-e-rosa.
Grande Otelo (1915/1993)
Ele atuou em mais de cem filmes - chanchadas, musicais e dramas - e protagonizou um dos mais importantes filmes do cinema nacional, Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade. Ao lado de Oscarito, se tornou um dos atores mais populares do País. O mineiro de Uberlândia Sebastião Bernardes de Sousa Prata atuou, ainda, no teatro de revista, se apresentando no lendário Cassino da Urca. Apesar de ser constantemente lembrado como um ator cômico, Grande Otelo mostrou sua versatilidade em papéis dramáticos, como em Moleque Tião (1943) e Rio Zona Norte. Morreu quando desembarcava no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, rumo a Nantes, onde seria homenageado no festival de cinema local.

Jackson do Pandeiro (1919/1982)
O paraibano foi um dos maiores ritmistas da história da música popular brasileira e um dos responsáveis pela nacionalização de canções nascidas entre o povo nordestino. Sebastiana, Forró em Limoeiro, O Canto da Ema, Chiclete com Banana e Xote de Copacabana são alguns dos sucessos do cantor e compositor que soube como ninguém misturar baião, coco, samba-coco, rojão e marchinhas de carnaval.

Zé Ketti (1921/1999)
O compositor carioca Zé Ketti cantou o morro, as injustiças sociais, a malandragem e seus amores em cancões inesquecíveis como Máscara Negra e A Voz do Morro. Esta última foi composta em 1954 para a trilha musical do filme Rio 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos, no qual participava também como ator. Três anos depois, o diretor de cinema mais uma vez utiliza canções de Zé Ketti em Rio Zona Norte. Outro momento notável de sua vida foi durante o ano de 1964, quando integrou o elenco do show Opinião - marco da resistência política-cultural à ditadura.

Pelé (1940)
Eleito em pesquisa promovida pelo jornal francês L´Equipe, em 1980, o Atleta do Século e Rei do Futebol, Édson Arantes do Nascimento é respeitado até hoje em todo o mundo por seu domínio e talento com a bola. O mineiro de Três Corações foi o principal jogador do Santos. Conquistou, como jogador, as Copas de 1958, 1962 e 1970. Sua postura social também rendeu algumas condecorações - recebeu o título de Embaixador da ONU para a Ecologia e Meio Ambiente, em 1992, e o título de Embaixador da Boa Vontade da Unesco, em 1993.

Mussum (1941/1994)
Integrante dos Trapalhões - o quarteto de atores/comediantes que divertiram a infância de muitas gerações -, Mussum era uma das figuras mais amadas no meio artístico. As crianças adoravam o jeitão malandro de Mussum, vidrado num samba, num "mé" e em mulher. O carioca e mangueirense fez parte, ainda, do grupo musical Originais do Samba, popular na década de 60.

Benedita da Silva (1942)
A vice-governadora do Estado do Rio já foi vereadora e deputada, além de ser a primeira senadora negra do Brasil. Defendendo o lema negra, mulher e favelada, Benedita foi professora da escola comunitária da favela Chapéu Mangueira, fundou o Departamento Feminino da Federação das Associações da Favela do Estado do Rio, além de participar do Centro de Mulheres de Favelas e Periferia. Hoje, é uma das figuras mais atuantes da política brasileira.

Zezé Motta (1944)
Além de ser atriz e cantora, Zezé Motta é uma defensora dos direitos das pessoas negras. Sua atuação como a escrava Xica da Silva, no filme homônimo de Cacá Diegues, em 1976, a tornou conhecida e respeitada por seu talento e beleza.

Jovelina Pérola Negra (1944/1998)
Cantora e compositora carioca, considerada pel crítica e fãs a grande dama do pagode e a herdeira musical de Clementina de Jesus.

João do Pulo (1954/1999)
João do Pulo foi um dos marcos do esporte no Brasil. Os títulos foram muitos, entre os mais importantes o Pan-Americano do México, em 1975, o Pan-Americano de Porto Rico em salto a distância e salto triplo, em 1979, o tri-campeonato do mundo (Alemanha 77, Canadá 79, e Itália 81). Além disso, João do Pulo foi quatro vezes campeão brasileiro e cinco vezes campeão sul-americano. O único título que faltou à carreira do atleta foi o de campeão olímpico (nas duas Olimpíadas que disputou - Montreal 76 e Moscou 80 - ficou com a medalha de bronze). Em dezembro de 1981, João do Pulo sofreu um acidente de carro e teve a perna direita amputada.

Deise Nunes (1968)
Em 17 de janeiro de 1986, a gaúcha Deise Nunes, então com 18 anos, entrava para a história dos concurso de miss no Brasil. Não apenas por sua beleza que admiramos até hoje, mas por ser a primeira miss negra brasileira, quebrando o tabu de escolhermos louras em um país de morenas, mulatas e negras. Vale lembrar que Deise sofreu preconceito desde de ter sido escolhida para representar seu estado no concurso - seria ela mesma gaúcha? A coroa e o cetro de miss serviram mais para a população negra do que para a própria Deise - ela se tornou um referencial para a valorização da beleza de qualquer ser humano, independente de sua cor.

2 comentários:

  1. parabéns pelo carinho e dedicação com que você escreve este blog!Você escreve muito bem,e parece mandar bem no inglês.The woman black is beautiful. Julia

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    1. Obrigada Julia, pelo carinho e atenção que você dedicou aqui no meu cantinho. Sim é verdade: A mulher negra é bonita!

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